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A biodiversidade desempenha um papel fundamental nas transformações necessárias para assegurar um futuro sustentável para o planeta. Nesse sentido, a bioeconomia e a tecnologia verde, por exemplo, oferecem um caminho para alterar a lógica produtiva atual e valorizar os biomas conservados e as comunidades tradicionais.

É diante desses desafios e objetivos que a bioprospecção ganha tanta importância. A pesquisa de insumos nativos de cada ecossistema, propondo novos usos e incorporando  o conhecimento ancestral das populações locais, é o que deve guiar os diferentes setores da indústria.

A seguir, entenderemos melhor sobre esse conceito e os benefícios que ele oferece. Acompanhe!

O que é bioprospecção?

Quando falamos em prospecção, nos referimos à busca por algo usando técnicas relativas à pesquisa. Nesse sentido, a bioprospecção é a procura por organismos vivos (vegetais, microrganismos, animais etc.) e outros compostos que sejam de interesse acadêmico, tecnológico ou industrial (setor cosmético, alimentar, farmacêutico etc.).

Sandra Zanotto, química e fundadora da Amazon Doors, consultoria que viabiliza o acesso a produtos e ingredientes amazônicos, comenta que o processo de bioprospecção depende do que cada empresa busca.

A especialista cita a procura por novas fontes proteicas para fins alimentares. Isso pode envolver, por exemplo, estudar espécies vegetais que possam servir como fontes proteicas veganas (sem insumos de origem animal).

Exemplos de bioprospecção na Amazônia

Como vimos, a bioprospecção pode ser usada em diversos setores produtivos. De estudos acadêmicos à descoberta de novos insumos para a indústria de cosméticos, esse é um processo fundamental para inúmeros segmentos dentro da bioeconomia.

Sandra usa sua própria carreira como exemplo. Ela realizou trabalhos de bioprospecção na região amazônica, buscando componentes para a pesquisa da sua tese de doutorado.

Hoje, ela também conduz bioprospecção para demandas específicas do mercado, como a busca por novos ingredientes para a indústria alimentícia ou novos princípios ativos para o setor farmacêutico.

Leia mais: Qual a importância de fomentar a bioeconomia na Amazônia

Benefícios da bioprospecção

O processo de bioprospecção tem um potencial benéfico praticamente infinito. “Quando você pensa o que uma Floresta Amazônica pode oferecer de moléculas ativas, de insumos farmacêuticos ou de ativos para a indústria de alimentos ou cosméticos, é infinito”, destaca Sandra.

Ela afirma que, hoje, é impensável que grandes empresas, sobretudo dos setores de cosméticos, fármacos e bioterápicos, não realizem trabalhos de bioprospecção de insumos na região amazônica. Afinal, a floresta é a grande fonte de ingredientes e produtos para essas indústrias.

Porém, vale ressaltar, os benefícios da bioprospecção não se limitam ao mercado. As comunidades locais e a própria floresta também ganham com esse processo.

Como enfatiza Sandra, é possível usar o conhecimento tradicional dessas populações como base para proporcionar novas descobertas de forma muito mais rápida para a indústria. É o caso, por exemplo, dos conhecimentos medicinais dos povos da floresta.

Nesse sentido, Sandra cita a Lei nº 13.123/2015, conhecida como Lei de Acesso à Biodiversidade. O documento dispõe “sobre a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado e sobre a repartição de benefícios para conservação e uso sustentável da biodiversidade”.

A lei estabelece, entre outras coisas, que o trabalho de prospecção só poderá ser feito com consentimento formal previamente concedido pela população indígena ou comunidade tradicional do local, “segundo os seus usos, costumes e tradições ou protocolos comunitários”.

Além disso, será necessário fazer a repartição dos benefícios “resultantes da exploração econômica de produto acabado ou de material reprodutivo oriundo de acesso ao patrimônio genético de espécies encontradas em condições in situ, ou ao conhecimento tradicional associado” com essas comunidades.

“A Lei vem para garantir a essas populações os benefícios do conhecimento que elas têm. Ou então elas ficariam apenas a ver navios com essas indústrias bilionárias”, afirma Sandra.

Protocolos e boas práticas de manejo

Essa lei é só um exemplo do avanço da legislação brasileira nesse sentido. Hoje, para uma empresa poder explorar matérias-primas ou ingredientes amazônicos, é preciso seguir uma série de protocolos de boas práticas de manejo e beneficiamento primário.

Além da questão legal, o próprio mercado conduz a uma atuação ética das empresas no que se refere à bioprospecção. Isso porque consumidores, investidores e parceiros de negócios exigem rastreabilidade dos insumos utilizados. Isto é, a possibilidade de mapear a origem dos ingredientes e produtos e o cumprimento das boas práticas.

Portanto, cabe às empresas se adequarem à legislação e manterem-se abertas para modificar seu modelo de negócio. 

Quando falamos em bioprospecção, é preciso que o negócio tenha um propósito e um objetivo claros. “Meu propósito sempre foi trazer a visibilidade da potencialidade da Amazônia para o mercado”, diz Sandra. “Eu ficava indignada de saber das potencialidades existentes, mas de isto não estar no mercado e as pessoas não conhecerem”, complementa. 

O Sinapse da Bioeconomia é um programa de pré-incubação realizado pela Jornada Amazônia. A iniciativa busca estimular a criação de novos empreendimentos que ajudem a preservar a floresta, a partir de ideias e pesquisas inovadoras, oferecendo capacitação, suporte e recursos para tirá-las do papel.

O programa Sinapse está com inscrições abertas até o dia 30 de junho. Acesse, conheça e inscreva-se!