A manutenção da cobertura florestal desempenha um papel fundamental diante dos desafios socioambientais do nosso tempo. Não basta preservar, é preciso garantir a longevidade desses ambientes e o uso responsável dos recursos naturais.
O manejo florestal sustentável é uma forma de assegurar o correto uso da terra e da água e a preservação da fauna e da flora, criando um modelo produtivo que não apenas beneficie o meio ambiente, mas que também traga oportunidades para as comunidades vizinhas.
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O que é manejo florestal sustentável?
Segundo o Sistema Nacional de Informações Florestais, 58% do território brasileiro é ocupado por florestas, sendo o país com maior cobertura de florestas tropicais do mundo.
Frente aos desafios climáticos, a conservação dessa cobertura é fundamental. E não se trata apenas de uma preocupação ambiental; também tem a ver com desenvolvimento socioeconômico sustentável das populações desses ambientes e do País como um todo.
Nesse sentido, o manejo florestal sustentável está alinhado a esses objetivos e preocupações. A prática é definida no art. 3º da Lei Nº 11.284/2006 como: “administração da floresta para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madeireiras, de múltiplos produtos e subprodutos não madeireiros, bem como a utilização de outros bens e serviços de natureza florestal”.
Colocando em outras palavras, o manejo florestal sustentável envolve técnicas de baixo impacto ambiental para a exploração de ecossistemas florestais. Para isso, busca-se reproduzir os ciclos naturais, conservando a floresta em pé, sua biodiversidade e seus recursos, e respeitando seus limites de produtividade e regeneração.
O objetivo de um plano de manejo florestal sustentável é garantir que os recursos naturais sejam explorados de forma responsável. Isso significa assegurar sua renovação e, portanto, a possibilidade de uso a longo prazo, sem esgotamento, de forma a trazer benefícios econômicos, sociais e ambientais para a região.
Quais são os tipos de manejo florestal sustentável?
Existem algumas formas com que o manejo florestal sustentável pode ser feito. Destacamos:
- Manejo sustentável de florestas nativas: é a exploração dos recursos já disponíveis naturalmente em uma floresta, como madeira, frutos, óleos, resinas, entre outros.
- Manejo sustentável de florestas plantadas: trata do manejo de plantações florestais comerciais ou florestas plantadas fora de reservas legais (RL) e áreas de preservação permanente (APPs).
- Manejo sustentável de agroflorestas: baseia-se nos sistemas agroflorestais (SAFs), que combinam culturas agrícolas com espécies nativas de plantas e animais.
Quais são os benefícios do manejo florestal sustentável?
Como define a própria legislação, o manejo florestal sustentável deve garantir ganhos econômicos, sociais e ambientais. De fato, a prática traz benefícios importantes para as comunidades locais, uma vez que gera emprego e renda às populações vizinhas às florestas.
Mas não é só isso. Um plano de manejo florestal sustentável ajuda na manutenção de culturas e tradições locais. Afinal, são nas comunidades que estão o conhecimento e as técnicas para melhor lidar com os recursos disponíveis nos biomas, sua fauna e sua flora.
Dito isso, são diversos também os ganhos ambientais das práticas de manejo florestal sustentável. Entre os principais:
Proteção dos recursos hídricos
O manejo florestal sustentável permite a conservação da integridade ecológica do bioma, o que abrange também seus recursos hídricos. Isso ocorre porque esse sistema contribui para a proteção das nascentes de água, dos rios e da mata ciliar. Os impactos são sentidos, por exemplo, na redução de sedimentos e inundações.
Captura de carbono
Dados de um estudo do Instituto Tecnológico Vale (ITV) mostraram que a manutenção de uma única árvore de Erisma uncinatum Warm corresponde ao armazenamento de 58 toneladas de CO2 equivalente. A espécie conhecida como “cinzeiro”, segundo o estudo do ITV realizado em uma área protegida na Amazônia, no sudeste do Pará, é a que apresentou o maior estoque de carbono. Na esteira do tópico anterior, uma pesquisa recente revela que os corpos d’água, como os lagos tropicais em regiões e mata preservada, sequestram carbono a uma taxa 39% maior do que a das florestas.
Ou seja, o manejo florestal sustentável é essencial para reduzir os efeitos da emissão dos gases do efeito estufa na atmosfera e conter as mudanças do clima.
Conservação da biodiversidade
A manutenção da biodiversidade é outro ganho importante do manejo florestal sustentável. Via de regra, este modelo funciona na forma de rodízio, o que contribui para a produção sustentada a longo prazo, respeito às sazonalidades e exploração equilibrada, além de abrigar os animais silvestres.
Desenvolvimento rural sustentável
No que se refere à produção rural, o manejo florestal sustentável favorece a adoção de boas práticas de produção, como técnicas agrícolas de baixa emissão de carbono e melhor gestão do uso da terra. Um exemplo de impacto positivo é a recuperação de áreas degradadas por pastagem (RAD-P).
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Como fazer o manejo florestal sustentável?
Colocar um plano de manejo florestal sustentável em prática demanda etapas bem definidas, que tragam as práticas que serão utilizadas para garantir a exploração responsável dos recursos.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) criou uma cartilha detalhando o funcionamento. Segundo o documento, as etapas são:
- Elaboração do plano de manejo sustentável: levantamento das espécies e coleta de dados (localização, volume etc.) para definir como a área será explorada.
- Divisão das áreas de manejo: seguindo a legislação, margens de rios e topos de montanha compõem APPs e não podem ser exploradas. Além disso, é necessário manter uma reserva de, pelo menos, 5% da área no caso de concessões florestais. A área que pode ser explorada é dividida em unidades de produção anual (UPAs), que receberão o sistema de rodízio.
- Início da exploração: cada UPA possui um limite de exploração, definido de acordo com o ciclo de manejo.
- Rodízio de UPAs: o sistema permite que a floresta seja explorada de maneira sustentável e renovável, ou seja, uma área e/ou espécie só volta a ser explorada após sua regeneração natural.
- Certificação: no caso de produtos madeireiros, todos devem ser catalogados, certificados e verificados para assegurar sua rastreabilidade.
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