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O empreendedorismo de impacto socioambiental é um dos caminhos para ajudar na preservação do meio ambiente, promovendo um uso mais inteligente e menos predatório de recursos naturais e valorizando as comunidades locais.

A tecnologia verde é ponto central nesta revolução, combinando modelos de negócio que tenham como foco não apenas o retorno financeiro, mas os ganhos para a natureza e para as pessoas.

A seguir, vamos entender melhor esse conceito e suas aplicações. Boa leitura!

O que é tecnologia verde?

Tecnologias verdes abrangem soluções que permitem realizar processos produtivos de maneira sustentável, minimizando impactos ambientais e sociais.

O pesquisador da Fundação CERTI e coordenador do programa Sinergia, Victor Augusto Moreira, explica que é importante entender a diferença entre os conceitos de tecnologia social e tecnologia verde. 

A tecnologia social trata de metodologias que ativam comunidades para um fim específico e visam replicar essa solução em outros territórios. Pode ser um arranjo ou processo produtivo que permita a um grupo ou comunidade específica a se desenvolver e aprimorar ferramentas, processos ou a própria rede social.

“Por sua vez, a tecnologia verde está mais ligada ao conceito de processo produtivo, seja a fabricação de um produto ou a oferta de um serviço. Além disso, geralmente está associada a um equipamento ou a tecnologias limpas, como microgeração de energia e barcos solares, que não necessariamente passam pela ativação de comunidades”, explica Moreira. 

Quais os benefícios que essa tecnologia oferece?

Além dos benefícios claros para o meio ambiente e, em muitos casos, para as comunidades locais, a tecnologia verde também é vantajosa do ponto de vista dos empreendedores.

“Podemos pensar nessas vantagens em três estágios: a primeira diz respeito ao meio ambiente e à saúde”, explica Moreira. A tecnologia verde é base para a geração de negócios mais limpos e sustentáveis, que impactam menos a região onde as empresas atuam e, por sua vez, mais saudáveis para os consumidores.

Em seguida, temos os benefícios para a sociedade. Além dos ganhos acima, a tecnologia verde impulsiona a geração de novos empregos (também verdes) e favorece a preservação dos biomas.

Por fim, há um aspecto mais amplo, que são os impactos no clima. Isso envolve a escalabilidade das empresas e a promoção de modelos de negócio mais sustentáveis para novos mercados e países. O objetivo é justamente colaborar para frear os eventos climáticos extremos.

Ao empreender em tecnologia verde, é importante que os empreendedores pensem no todo. Afinal, em muitos casos, investir em tecnologia verde é mais complexo e oneroso para o empreendedor. No entanto, ao pensar em um modelo de negócio que seja benéfico não só para si, a empresa se diferencia do restante do mercado (tanto para consumidores quanto para investidores).

Leia mais: 3 dicas para desenvolver um empreendimento sustentável

Como aplicar tecnologia verde em negócios de bioeconomia?

Para entender melhor como se dá a aplicação da tecnologia verde, vamos conhecer alguns exemplos de empresas de diferentes segmentos – muitas delas participaram do Programa Sinergia.

Uma delas é a DCO Sustentável, negócio de microgeração de energia elétrica da região de Belém, no Pará. O modelo é totalmente adaptado à realidade amazônica, utilizando a variação do nível dos rios para produzir energia renovável. Isso é combinado com a geração por placas solares, evitando o desabastecimento em caso de baixa das águas.

Essa produção é voltada para a agroindústria, abastecendo iniciativas de produção de cacau por populações ribeirinhas em lugares em que não há energia elétrica, como no interior da floresta.

Moreira cita a startup Solalis como outro exemplo de aplicação de tecnologia verde. A empresa de Manaus é focada na produção de barcos elétricos movidos à energia solar e destinados tanto ao transporte de pessoas quanto no escoamento de mercadorias.

“O negócio surgiu como uma alternativa aos barcos movidos à diesel. Atualmente, esse modelo é usado para o escoamento do que é produzido na região, mas são altamente poluentes, prejudicando a água e o ar”, conta Moreira.

O conceito de tecnologia verde também está presente na TerraMares. Essa empresa do Rio Grande do Sul reproduz microalgas de diferentes regiões do Brasil (inclusive dos rios amazônicos) para uso como insumo agrícola, substituindo adubos e fertilizantes químicos que são nocivos ao meio ambiente.

A Manioca é outra empresa focada na tecnologia verde. Fundada no Pará, que desenvolve e produz alimentos com ingredientes regionais, como tucupi, levando-os para todo o Brasil. Um dos diferenciais da marca é a união da tecnologia verde à social, pois os processos produtivos envolvem as comunidades locais ao mesmo tempo que buscam causar menos impacto.

Mais um exemplo que podemos citar é a Amazonian SkinFood, uma marca de cosméticos produzidos com insumos de comunidades indígenas da região Norte (sobretudo do estado do Acre) e vendidos nos Estados Unidos.

A empresa realiza parcerias com as comunidades para obter insumos sustentáveis para a produção dos cosméticos com reduzido teor de aditivos químicos.

Mostrando como a tecnologia verde pode embarcar diferentes setores produtivos, temos também a Amazônia Smart Food. A empresa produz alimentos veganos sem aditivos, substituindo a carne por insumos amazônicos. Alguns exemplos são o hambúrguer de tucumã e a linguiça de açaí.

Independentemente do setor em que atuam, todas essas empresas têm em comum o uso de produtos e tecnologias limpos, com base em processos sustentáveis e com o objetivo de gerar menos impactos ambientais.

Como começar a empreender usando tecnologia verde? 

A tecnologia verde pode ser o ponto de partida para novos negócios. No entanto, existem alguns pontos que devem ser considerados, sobretudo relacionados aos impactos e ao retorno que o negócio pode proporcionar. Para Moreira, os principais são:

Fazer uma análise de mercado

Muitos empreendedores partem da oportunidade local para desenvolver algo, mas sem analisar o mercado: será que há consumidores interessados? Será que existe um mercado para absorver esse produto ou serviço?

Entender o potencial da tecnologia

Além de entender o mercado e suas demandas, é importante considerar o potencial da tecnologia e/ou do insumo local.

Tomando como exemplo a DCO Sustentável, há uma demanda clara: existem comunidades ribeirinhas que não têm energia elétrica. A partir dessa necessidade é que foi criada uma solução para resolver esse problema social em uma sociedade vulnerável.

A Solalis também pode ser usada como exemplo. O negócio foi criado a partir da necessidade de se reduzir a geração de resíduos nos rios e a poluição do ar nas regiões que dependem do transporte fluvial na Amazônia.

Ancorar o negócio em potencialidades do território

Portanto, não se trata de partir do produto, mas, sim, do olhar do mercado, das demandas latentes, atendendo-as a partir de um princípio de tecnologia verde e ancorado na perspectiva de matérias-primas e tecnologias locais e seu potencial.

Além de construir um novo modelo de negócio pautado em uma demanda de mercado conectada à tecnologia, é importante saber como aliar esse modelo à geração de impacto socioambiental positivo para o território e para a comunidade em questão. 

Ou seja, trata-se de não partir apenas do ponto de vista econômico, mas de enxergar e entender como o negócio pode impactar e gerar retorno para o meio ambiente, as pessoas e a economia da região.

Olhar para a Amazônia

Por fim, vale lembrar que estamos em um momento crítico de repensar em como conservar  ecossistemas. Por isso, os olhares do mercado voltam-se, sobretudo, para a Amazônia, e as empresas que possuem essa visão de impacto e de retorno para a região se tornam mais atrativas para atrair investimentos e se consolidar no mercado.

Então, é importante que os negócios busquem construir essas narrativas e se conectar a essa nova realidade.

A Jornada Amazônica promove o Programa Gênese para ajudar novos talentos da região que tenham interesse em empreender na bioeconomia a estruturar seus negócios.

O programa está com inscrições abertas até dia 9 de junho. Qualquer pessoa com mais de 16 anos e que more na Amazônia Legal pode participar. Conheça e inscreva-se!