O empreendedorismo feminino gera impactos positivos não apenas no mercado de trabalho, mas na sociedade como um todo. A região amazônica possui um grande número de mulheres empreendedoras, inclusive com grande percentual de pretas, pardas e indígenas.
Na busca por soluções ligadas à bioeconomia e à valorização da floresta em pé, elas tocam importantes negócios que podem contribuir para esses objetivos.
A seguir, vamos entender o contexto brasileiro e histórias de mulheres que fazem a diferença na região. Acompanhe!
Leia mais: Como startups da Amazônia impulsionam a bioeconomia do País
O cenário do empreendedorismo feminino no Brasil
Segundo pesquisa realizada pelo Sebrae com base em dados do IBGE, o número de mulheres empreendedoras no Brasil passou de 10 milhões. Analisando todos os negócios do País, eles representam 34,4% dos proprietários de negócios.
O cenário do empreendedorismo feminino brasileiro ainda é bastante particular. Ao todo, quase 9 em cada 10 mulheres (87%) trabalham sozinhas. Mesmo assim, houve um salto de 30% no número de empreendedoras que geram empregos de um ano para outro. Juntas, elas empregam mais de 1,3 milhão de pessoas.
Os estados com maior proporção de mulheres empreendendo são, respectivamente:
- Rio de Janeiro: 38%
- Ceará: 38%
- São Paulo: 37%
- Goiás: 36%
Já em relação aos setores, os que possuem o maior número de empreendedoras são:
- Serviços: 53%
- Comércio: 27%
- Indústria: 13%
Na Amazônia, o empreendedorismo feminino também ganha força. Muitas mulheres estão à frente de negócios de impacto e iniciativas focadas na sociobiodiversidade amazônica.
De acordo com o próprio Sebrae, são mais de 720 mil empreendedoras na região Norte. A maior parte delas (376 mil) está no estado do Pará. De fato, o norte do país apresenta uma taxa de empreendedorismo feminino inicial maior que a média brasileira; 20,8% a 17,5%, respectivamente.
Já segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), 10% das empresas fundadas no norte pertencem a mulheres. Em todo o Brasil, o índice é de 20%.
Porém, existe um diferencial importantíssimo do empreendedorismo feminino na região considerando a realidade brasileira: a diversidade.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) mostram que mulheres pretas, pardas e indígenas formam a esmagadora maioria das empreendedoras formais e informais no norte, alcançando índices superiores a 70%. Para se ter uma ideia, nacionalmente, esse número não ultrapassa 35%.
O impacto dos negócios liderados por mulheres
O empreendedorismo feminino tem impactos além da questão da representatividade. Ele é essencial para impulsionar a igualdade de gênero na sociedade e para o desenvolvimento e independência financeira das mulheres – algo fundamental, inclusive, para a redução da violência doméstica.
As empreendedoras conseguem gerar resultados positivos nas suas comunidades. Como vimos, as mulheres donas de empresas empregam mais de um milhão de pessoas no país. E com um diferencial: por questões óbvias de vivência, elas conseguem trazer perspectivas diferentes para o mundo dos negócios e para os problemas enfrentados nos diferentes setores.
Além disso, em um contexto em que a discriminação por gênero ainda é uma realidade, o empreendedorismo é uma forma para as mulheres conquistarem seu espaço no mercado de trabalho, ascender profissionalmente e ter mais autonomia.
O empreendedorismo feminino também gera um ciclo virtuoso para as trabalhadoras. Isso porque a tendência geral é que elas sejam mais abertas a contratar outras mulheres, ajudando a impulsionar essa virada no mercado. E sem falar do exemplo para as meninas das gerações mais novas, mostrando que elas também podem tirar suas ideias do papel.
Leia mais: Negócios de impacto: o que são e como criar o seu?
Histórias de mulheres empreendedoras na Amazônia
Mas como o empreendedorismo feminino acontece na prática na Amazônia? Algumas histórias nos ajudam a entender esse cenário.
Lígia Ferreira Tatto é a sócia e fundadora da Urucuna. Voltado para a inovação da sociobioeconomia, a empresa cria produtos aromáticos com base em produtos florestais da região amazônica. Tudo é feito com foco no fortalecimento das cadeias de valor e na valorização das comunidades locais.
“Quando comecei a empreender, eu sabia que queria contribuir com a manutenção da floresta em pé e valorização dos povos tradicionais e diferentes culturas nativas do Brasil. Mas eu não tinha o conceito de bioeconomia bem definido”, conta Lígia.
“Com a Urucuna, eu descobri isso e como isso se encaixava com nossa trajetória e onde queríamos chegar. Hoje, nos encaixamos mais como uma empresa de sociobioeconomia, porque temos um olhar de que tudo está junto: são os povos da floresta que fazem com que a bioeconomia possa existir, resistir e ser valorizada”, complementa.
Mareilde Freire Almeida é outro exemplo de empreendedorismo feminino que se baseia nos insumos e conhecimentos da floresta. Ela é fundadora da Saboaria Rondônia Toque Amazônico, que produz cosméticos naturais e sustentáveis feitos 100% de produtos da Amazônia.
A partir de uma necessidade pessoal, veio o estímulo para empreender. Foi nos produtos amazônicos que ela encontrou a solução que precisava, em especial palmeiras de buriti. E ela foi além do empreendedorismo e fundou o grupo Primeiras Guardiãs dos Buritizais, em Ouro Preto do Oeste, em Rondônia.
“Esse grupo foi desenhado aqui na comunidade onde nós, mulheres, fazemos um trabalho em defesa das palmeiras de buriti, desde a coleta dos frutos para extração do óleo (as sementes após despolpa são devolvidas para formação de mudas) e assim garantir a perpetuação das espécies”, explica Mareilde.
Juntamente com a defesa da floresta, vem também a valorização do trabalho das mulheres nas comunidades locais. “O empoderamento da mulher do campo é um dos nossos pilares. Nós atuamos em comunidades indígenas, ribeirinhas, agricultura familiar onde para aquisição dos insumos fazemos in loco um trabalho para mobilização da inserção das mulheres nessas cadeias produtivas”, diz.
Vontade de empreender para mudar a realidade
Com uma história semelhante, a Apoena Industrial combina inovação tecnológica com a tradição dos povos tradicionais para a transformação do coco babaçu.
Localizada no coração do Amazonas, a empresa tem como objetivos impulsionar a sustentabilidade e o desenvolvimento regional. Márcia Werle, fundadora da Apoena, conta que conhecer essa cadeia foi o que a motivou, como mulher, a empreender.
“Quando fui apresentada à cadeia do babaçu e pude ver as mulheres quebrando o coco no machado, isso me chocou, comoveu e sensibilizou – me arrepiou do dedo do pé ao último fio de cabelo”, relembra.
Mas não foi a única coisa que despertou seu interesse. “Além do trabalho degradante, outro fato me chamou a atenção é a baixa remuneração e o aproveitamento de somente 6% a 8% do fruto. O restante é subaproveitado ou até mesmo descartado”, diz Márcia.
Foi a partir daí que se iniciou a jornada para desenvolver uma tecnologia que pudesse aproveitar integralmente o coco babaçu e atenuar o trabalho das mulheres, possibilitando uma renda mais justa para as trabalhadoras.
Esses são apenas alguns cases de empreendedorismo feminino na região amazônica. Como podemos ver, a inovação, a manutenção da floresta em pé e valorização dos saberes e fazeres locais permeiam muitas dessas histórias.
A Jornada Amazônia é uma plataforma para desenvolvimento e aceleração para negócios inovadores da bioeconomia. Conheça e veja como fazer parte dessa jornada!