Dentro da imensidão do bioma com a maior biodiversidade do planeta, a castanheira é a árvore símbolo da floresta amazônica. Podendo chegar a mais de 50 metros de altura e viver até 500 anos, ela produz um dos insumos mais importantes para os povos tradicionais da região e para a economia da região norte: a castanha da Amazônia.
A cadeira produtiva da castanha da Amazônia é um dos mais importantes cases de produção sustentável na floresta.
Como boa parte da produção é feita por agroextrativistas locais (castanheiros) e a colheita só pode ser feita a partir dos frutos que caem da árvore, o fruto é fundamental para a manutenção da floresta em pé e consequente conservação do bioma amazônico.
E ao contrário de outras cadeias produtivas da região, o extrativismo é aliado fundamental da floresta.
Não só seu cultivo ajuda na preservação do meio ambiente, mas os castanheiros realizam um trabalho ativo de vigilância e gestão do território, além de colaborar para dispersar as sementes e reflorestar zonas degradadas.
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Como a castanha se tornou uma das principais cadeias produtivas da Amazônia
A castanha da Amazônia (também chamada de castanha-do-pará ou castanha-do-brasil) é um insumo que já fazia parte do dia a dia dos povos originários brasileiros.
Já no século 18, sob o regime colonial, o fruto representa parte considerável das exportações brasileiras.
Estima-se que há mais de 400 milhões de castanheiras na Amazônia, principalmente nos estados do Amazonas (35% do volume de produção), do Pará (26%) e do Acre (20%).
Segundo o Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA), a cadeia produtiva da castanha da Amazônia é “a única safra globalmente comercializada cuja coleta é realizada por extrativistas em florestas tropicais nativas e silvestres”.
Como vimos, isso torna a castanheira e a cadeia construída ao redor delas elementos essenciais para a conservação da floresta amazônica e dos saberes dos povos e comunidades tradicionais.
A cadeia produtiva da castanha da Amazônia
A cadeia produtiva da castanha da Amazônia envolve diferentes atores, entre eles:
- Extrativistas: povos e comunidades locais (castanheiros).
- Organizações comunitárias: associação e cooperativas de agroextrativistas.
- Intermediários: pessoas de dentro ou de fora da comunidade que realizam o escoamento da produção.
- Usinas beneficiadoras: realizam a retirada da casca.
- Indústria de processamento e transformação: compra a castanha beneficiada e faz seu processamento para diferentes usos.
- Atacadistas e varejistas: fazem a venda para o consumidor final.
Entendidos os agentes da cadeia, a produção da castanha da Amazônia passa por diferentes etapas:
- Planejamentos: o grupo de coleta se organiza para planejar a produção e comercialização.
- Pré-coleta: limpeza do caminho até as castanheiras e do espaço ao redor das árvores.
- Coleta.
- Amontoa, quebra e seleção: os ouriços são amontoados e quebrados para que as castanhas sejam retiradas, assim como as impurezas e frutos ruins.
- Lavagem e seleção: as castanhas são lavadas nos rios ou igarapé. Os frutos não apropriados para consumo são descartados.
- Secagem: etapa para evitar a proliferação de fungos e outros microrganismos, bem como evitar toxinas.
- Transporte: o escoamento da produção, geralmente feito por barcos.
A maior dificuldade enfrentada pelos produtores é a falta de políticas públicas voltadas para a cadeia da castanha da Amazônia. São necessárias medidas que incentivem os agroextrativistas e que permitam que eles ampliem o trabalho de coleta e escoamento do fruto.
Por exemplo: por ter uma produção majoritariamente artesanal, cuja coleta é realizada no interior da floresta e em áreas muito espaçadas de difícil acesso, a castanha da Amazônia representa apenas 0,5% do mercado global de nozes e castanhas, que movimenta quase US$ 40 bilhões anualmente.
E uma cadeia tão beneficente precisa ser protegida. É preciso criar subsídios que forneçam a essas populações o necessário para que continuem a conviver com a natureza de forma harmônica. Isso passa pelo estímulo ao associativismo, disponibilização das ferramentas necessárias para a gestão da cadeia e inovação.
A começar pela ampliação da produção. Um exemplo: segundo reportagem publicada no UOL, somente na região do Paru, no Pará, ao menos 70% dos castanhais ainda não foram explorados.
Além disso, os produtores não têm a estrutura necessária para beneficiamento da castanha da Amazônia. Grande parte da produção chega ao consumidor in natura. Isso representa a perda da oportunidade de ativar outras frentes da cadeia a partir de produtos derivados, como a farinha e o óleo, e gerar ainda mais benefícios.
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O papel da castanha do pará na bioeconomia na Amazônia
A cadeia produtiva da castanha da Amazônia é o exemplo perfeito do potencial da bioeconomia na floresta. Isso porque ela não traz apenas benefícios econômicos; ela também é fundamental para proteger as populações tradicionais, contribuir para a preservação do bioma e para a restauração de áreas degradadas.
O fruto é um dos principais ativos da bioeconômica na região. Anualmente, esta cadeia produtiva movimenta cerca de R$ 2 bilhões, segundo relatório do OCA.
Na floresta, existem cerca de 300 mil pessoas, de quase 190 municípios, que dependem da cadeia produtiva da castanha, segundo a Mongabay Brasil. Para essas comunidades, o fruto é a maior fonte de renda que elas possuem.
Além disso, a cadeia da castanha da amazônia envolve mais de 120 organizações comunitárias e 60 empresas de beneficiamento e comercialização.
Na safra de 2020, foram produzidas mais de 33 mil toneladas. Do total, 14,7 (45%) foi destinado à exportação e 18,3 (55%) para consumo interno. Somente uma das cooperativas da região, a Associação dos Moradores Agroextrativistas das Comunidades (Asmacaru), comercializou cerca de 30 toneladas do fruto em 2022.
Vale notar ainda que, do total produzido pelas cooperativas, quase 84% das castanhas da Amazônia são comercializadas regionalmente – os outros 16% atendem o mercado nacional. Isso mostra a importância do fruto para toda a região do bioma amazônico.
Por fim, a castanha da Amazônia é essencial para a segurança alimentar de muitas comunidades. Na região de Cafezal, no Pará, por exemplo, 5% da safra é destinada à produção de biscoitos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar.
Muito além do alimento: as aplicações da Castanha da Amazônia
Embora a castanha da Amazônia seja utilizada principalmente para fins alimentícios (in natura e farinha, principalmente), ela também serve de insumo para os produtos de outros setores. Inclusive ganhando o mundo.
Por exemplo: segundo o estudo da OCA, 20% dos produtos que têm a castanha da Amazônia como insumo na indústria de cosméticos é destinado ao mercado internacional. O principal ingrediente, neste caso, é o óleo da castanha
Outro exemplo é a produção de um bioplástico feito da casca do fruto. A partir da parceria entre comunidades locais, empresas, organizações e universidades, a iniciativa utilizou as fibras do ouriço da castanha para produzir um composto plástico. A ideia é criar alternativas ao plástico convencional.
Estima-se que o projeto gera quase R$ 5 milhões em renda para as comunidades envolvidas e um faturamento de R$ 20 milhões nos três anos iniciais. Além disso, espera-se uma redução de 300 toneladas de CO2 emitidos na atmosfera.
Mas não só isso. O fruto da Amazônia também tem uma importância cultural inestimável, fazendo parte das tradições, do modo de vida e da identidade das populações locais. É um conhecimento que passa de geração para geração, mantendo vivos os conhecimentos dessas comunidades.
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