O Sinapse da Bioeconomia é um programa da Jornada Amazônia que investe R$ 60 mil em ideias que têm o potencial de auxiliar na preservação da floresta em pé e tem o objetivo de incentivar uma nova geração de negócios inovadores na Amazônia
Após um rigoroso processo seletivo, um grupo de empreendedores atentos aos desafios atuais da Amazônia foi escolhido para fazer parte da segunda edição do Sinapse Bio. A seleção iniciou em abril com 738 ideias submetidas, as quais passaram por um processo seletivo em 3 fases. O resultado é divulgado nesta sexta-feira (20/09/2024).
As ideias de negócios submetidas ao Sinapse Bio passaram por uma avaliação criteriosa que levou em consideração diversos aspectos. Entre os principais fatores analisados estavam o potencial inovador das soluções apresentadas, a viabilidade e potencial de mercado, e, acima de tudo, o impacto positivo que esses negócios poderiam gerar para a preservação da floresta em pé, um dos pilares essenciais do programa.
Além disso, os projetos foram avaliados com base em outros critérios, como a possibilidade de replicar o modelo de negócio, a capacidade dos empreendedores em implementar suas ideias de forma eficaz e o alinhamento das propostas com os princípios da bioeconomia.
A última etapa de avaliação foi especialmente desafiadora. Os 100 projetos finalistas participaram de uma entrevista aprofundada de uma hora com especialistas da Fundação CERTI. Durante essas entrevistas, os empreendedores tiveram a oportunidade de defender suas ideias, apresentar suas estratégias e mostrar como seus negócios podem contribuir de forma significativa para a preservação e o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Para Marcos Da-Ré, diretor do Centro de Economia Verde da Fundação CERTI, esta edição do Sinapse Bio revelou um amadurecimento significativo nos negócios submetidos, refletindo diretamente na qualidade das propostas apresentadas. “Observamos que os projetos estão cada vez mais sintonizados com as estratégias de conservação da floresta em pé, integrando o impacto ambiental de forma mais consistente em seus modelos de negócio. Cada vez mais, percebemos que o impacto socioambiental não é mais um aspecto complementar, mas uma parte essencial dos modelos de negócios. Os empreendedores estão desenvolvendo soluções inovadoras que beneficiam o meio ambiente ao mesmo tempo que resolvem problemas de mercado. Isso representa um avanço importante para a bioeconomia da Amazônia.”
Dentre as principais temáticas e tecnologias utilizadas no desenvolvimento de soluções inovadoras, podemos observar entre os 70 negócios selecionados uma diversidade de abordagens, cada uma utilizando diferentes tecnologias e temáticas.
O destaque vai para “Insumos Funcionais e Matérias-Primas Avançadas”, que lidera com 17 soluções desenvolvidas. A “biotecnologia e genética” também se destacam, com 12 soluções focadas em avanços científicos que podem revolucionar a agricultura, saúde e outros segmentos. Outras áreas de destaque incluem “Inteligência Artificial, Big Data e Machine Learning”e “Soluções Climáticas”, refletindo a crescente tendência de uso de tecnologias e abordagens inovadoras nos modelos de negócio da bioeconomia.
Confira alguns cases aprovados nesta edição e que desenvolvem novas tecnologias:
ASA (Manaus, AM): A ASA enfrenta os desafios logísticos da Amazônia, oferecendo veículos aéreos de decolagem e pouso vertical (VTOLs) para facilitar o transporte em uma região com infraestrutura precária. Focada no comércio eletrônico, agricultura e ajuda humanitária, a empresa responde a uma demanda crescente por soluções logísticas ágeis na região.
Wood Chat (Rio Branco, AC): Utilizando inteligência artificial e visão computacional, a Wood Chat oferece um sistema inovador de reconhecimento de madeira, que otimiza o manejo florestal sustentável e facilita a conformidade com regulamentações ambientais. O sistema já está em testes e visa proteger espécies raras, ao mesmo tempo em que melhora a eficiência na produção e preserva a biodiversidade da Amazônia.
Amaz Green Farm (Ananindeua, PA): Liderado por Roseane Teixeira, a Amaz Green Farm desenvolve uma plataforma SaaS que assegura a conformidade de imóveis rurais com a legislação ambiental. O sistema gera relatórios para auditorias e otimiza o planejamento agrícola por meio de análises de cobertura do solo. Atendendo tanto gestores ambientais quanto produtores rurais, a solução automatiza o mapeamento das propriedades rurais e contribui para a eficiência operacional e sustentabilidade no campo. A ideia foi inicialmente fruto da experiência da empreendedora no programa Gênese, também da Jornada Amazônia, onde o projeto foi aprimorado pelas capacitações, conteúdos e interações.
Renova Bio (Manacapuru, AM): A Renova Bio transforma resíduos do pirarucu em alimentos funcionais ricos em colágeno, aproveitando pelo menos 5% do resíduo do peixe. Esse processo inovador contribui para a sustentabilidade ambiental e combate o desperdício, ao mesmo tempo que explora um mercado estimado em USD 403,5 milhões anuais, promovendo o desenvolvimento regional e a segurança alimentar.
Distribuição dos negócios por estados:
A seleção dos negócios para o Sinapse Bio 2024 mostra um grande número de soluções vindas do Pará (PA), que lidera com 32 negócios aprovados, representando quase metade do total (45,7%). Amazonas (AM) aparece em segundo lugar com 12 negócios (17,1%), seguido por Amapá (AP) com 5 (7,1%).
O regulamento do Sinapse Bio prevê que até 80% das vagas sejam destinadas a residentes da Amazônia Legal, com os outros 20% podendo ser preenchidos por candidatos de outras regiões, desde que a empresa contemplada seja criada na Amazônia Legal. “No entanto, a competitividade dos negócios da Amazônia foi tão alta que a cota de 20% para os outros estados sequer foi preenchida. Isso destaca a força dos empreendimentos da Amazônia”, observa Gustavo Canova, pesquisador da Fundação CERTI e coordenador do Sinapse da Bioeconomia.
Para Janice Maciel, Gerente do Centro de Economia Verde da Fundação CERTI e coordenadora da Jornada Amazônia, esses dados refletem a profunda compreensão que os residentes da Amazônia têm sobre os desafios locais: “O ecossistema de empreendedorismo e negócios na Amazônia possui particularidades que influenciam diretamente as demandas do mercado. O conhecimento dessas necessidades e oportunidades está naturalmente mais acessível para quem vive na região. Devido à complexidade única da Amazônia, é menos provável que empreendedores de fora estejam tão familiarizados com os problemas e as oportunidades da bioeconomia local.”
Empreendedorismo além das capitais
Historicamente na Jornada Amazônia, as capitais Belém e Manaus têm um desempenho elevado na quantidade de propostas submetidas, o que mais uma vez ficou evidente nesta edição, sendo Belém com 9 ideias e Manaus com 8 ideias submetidas. Entretanto, nesta edição é notável a crescente distribuição de propostas oriundas de cidades afastadas dos grandes centros. Essa descentralização reflete o avanço do empreendedorismo além das capitais, como exemplificado pela presença significativa de municípios como Santarém (5), Benjamin Constant (2) e Altamira (2). Esse movimento de interiorização demonstra que o ecossistema de negócios está se expandindo para regiões onde o conhecimento local, os problemas de preservação da floresta em pé e as oportunidades de bioeconomia podem ser ainda mais expressivas.
Mulheres lideram a inovação
A edição de 2024 do Sinapse Bio trouxe resultados positivos em termos de representatividade e inclusão. Um dos destaques é a presença majoritária de mulheres nas equipes dos negócios aprovados, representando 54,72% dos membros de equipes, enquanto os homens são 45,28%. Esses números refletem uma nova dinâmica do mercado, onde as mulheres estão assumindo o protagonismo do empreendedorismo na bioeconomia.
Um exemplo fantástico entre os negócios aprovados é a Associação Semeando Juntos, que vai constituir uma empresa para inovar em produtos derivados do cacau, inclusive com o desenvolvimento de açúcar e geléia de cacau, entre outros produtos. Mas, o mais curioso, é que este projeto é composto por 37 mulheres empreendedoras. Além deste, diversos outros negócios são liderados por mulheres de comunidades tradicionais, como povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Com destaque para Puwakana: negócio liderado por Josilene, da etnia Kokama em Benjamin Constant (AM) e Moda de Quilombo liderado por Sara Miranda, do Quilombo Mariquita, Tomé-Açu (PA).
Alvos de Inovação
Os negócios aprovados nesta edição estão alinhados aos principais alvos de inovação para a região amazônica. Os alvos de inovação são diferentes tipos de soluções que já possuem demanda no mercado e que podem fortalecer a competitividade da floresta em pé. Eles representam grandes oportunidades para empreendedores e negócios inseridos no contexto da bioeconomia.
Esse conceito foi identificado em um estudo realizado pela Fundação CERTI, em parceria com várias indústrias que compram produtos da Amazônia. A pesquisa buscou compreender as principais dificuldades e obstáculos enfrentados por essas empresas que, uma vez superados, poderiam impulsionar o mercado da bioeconomia na floresta. Dos alvos mapeados pela CERTI, os negócios selecionados no Sinapse Bio, respondem aos principais desafios destes setores:
O maior destaque foi para o desenvolvimento de produtos B2C, com 21,43% dos respondentes indicando essa contribuição. Em seguida, aparecem a melhoria e controle de qualidade dos produtos (15,71%) e o desenvolvimento de novos ingredientes e matérias-primas avançadas (12,86%). Chama atenção também Gestão Organizacional e produtiva na base da cadeia (8,57%), beneficiamento de produtos na base (7,14%) e Inovação em equipamentos para extrativismo (5,71%).
Para Gustavo Canova, a seleção dos negócios do Sinapse Bio gera grande entusiasmo para a equipe da Jornada Amazônia, pois evidencia o potencial de impacto das iniciativas escolhidas para a bioeconomia da Amazônia. “A ampla participação de empreendedores da região e as soluções inovadoras apresentadas são um reflexo da crescente maturidade e sofisticação do ecossistema empreendedor amazônico”, pontua.
O Sinapse da Bioeconomia é um programa da Plataforma Jornada Amazônia, realizado e coordenado pela Fundação CERTI e Instituto CERTI Amazônia, com a coparticipação e investimentos do Bradesco, Fundo Vale, Itaú Unibanco e Santander.
Clique aqui e confira a lista completa dos projetos selecionados para a edição 2024 do Sinapse Bio.